sexta-feira, 11 de abril de 2008

texto I I: "O QUE CARACTERIZA UMA OBRA-PRIMA"

O QUE CARACTERIZA UMA OBRA-PRIMA

Robert Cumming

A função e o objetivo de uma grande obra de arte, as expectativas nelas depositadas e o papel do artista não são constantes; variam conforme o momento histórico/cultural. Contudo, algumas obras se destacam por terem a capacidade de “falar” além de sua própria época e oferecem inspiração e significado que atravessam os tempos. Antes da Renascença o artista era considerado um artesão e uma “obra-prima” era um trabalho submetido à sua corporação profissional como prova de que ele dominava as habilidades técnicas necessárias. Os próprios grandes mestres da Renascença propuseram que o artista deveria ser julgado mais pelas suas qualidades de intelecto e imaginação do que por sua perícia manual. Hoje, o conceito de obra-prima está ligado ao de um grande museu, entretanto, antes da Revolução Francesa esse conceito não existia, e nenhuma dessas grandes obras se destinava a ser mostrada no contexto em que se apresentam atualmente.

VIRTUOSISMO

Ao julgar qualquer desempenho excepcional de um atleta, músico, ator ou artista, a habilidade técnica é uma das primeiras considerações. Um grande artista deve ter completa mestria dessas habilidades, mais o conhecimento e a imaginação para fazer essas habilidades e as regras artísticas atingirem novos limites. O verdadeiro virtuosismo faz com que essas habilidades pareça ilusoriamente simples e natural.

INOVAÇÃO

A partir da Renascença a sociedade ocidental vem buscando, louvando e recompensando a inovação. Ser o primeiro significa ser lembrado como figura-chave na História. Giotto, Da Vinci e Picasso são considerados grandes mestres da pintura européia por conseguirem reescrever as regras e oferecer alternativas à linguagem visual da época. Muitos artistas posteriores desenvolveram-se e construíram sua arte com base nas conquistas desses gigantes. Cada obra-prima desafiou os limites artísticos, existentes na época em que foram produzidas, e os ampliou.

PATROCÍNIO

Antes do séc. XIX a maioria das obras eram encomendadas por um patrono, que em geral determinava as condições específicas ou tinha papel ativo na definição do tema e da aparência da obra. Antes da época moderna os grandes patrocinadores eram a Igreja católica e as cortes reais Européias. Só depois do Romantismo é que surgiu o papel do artista como um indivíduo solitário.

VISÃO ARTÍSTICA

Poucos artistas podem sobreviver sem o apoio financeiro de patronos, comerciantes e colecionadores, porém esse tipo de apóio não garante a qualidade do trabalho produzido A Capela Arena de Giotto ou o teto da Capela Sistina de Michelangelo são obras-primas porque expressam a crença total do artista e o seu empenho em fazer o que lhe foi pedido - no caso uma arte digna do próprio Deus – Esta crença numa idéia e no poder da pintura de expressar essa idéia distingue uma obra bem realizada tecnicamente de uma obra-prima.

O PAPEL DO ARTISTA

Um dos mitos mais persistentes na história da arte é a do grande pintor desprezado em vida e valorizado anos depois de sua morte. Isso raramente acontece. Muito mais comum é o caso do artista louvado em seu tempo e cinqüenta anos depois não passa de uma nota de rodapé na história da arte. Nem o aplauso nem a rejeição garantem fama no futuro. Os artistas vivem e trabalham em um contexto complexo feito por patrocinadores, colecionadores, comerciantes, instituições de arte e outros artistas. Destacar-se requer muita coragem e individualidade , qualidades que podem trazer sucesso a curto prazo, mas só aqueles dotados de uma visão profunda e que usam a arte não como um fim em si mas como um meio para dizer verdades maiores, são os que conseguem criar as obras-primas que resistirão ao julgamento do crítico mais severo de todos: o tempo.

Um comentário:

Nadia de Souza disse...

Cara vc é demais.Invejo essa sua paciência. Parabens, vou usar este blog para as minhas aulas. Bjss